Gilvan Vitorino C. S.
Da janela lateral, do quarto de dormir de uma aprazível pousada, vi a praça. Crianças brincavam e gargalhavam gargalhadas de alegria, e namorados se davam o quanto permitido...
As árvores, bem distribuídas, ornadas por jardins de belas flores – mesmo inverno, ou por isso mesmo – como se fossem lindas saias em belas mulheres, balançavam ao toque de vento gostoso, fresco.
No meio dela, como é típico de antigas cidades, o coreto estava em silêncio... (Seria o frio, o gostoso frio, que convidava ao recato – ao contrário do que se esperaria, quando o movimento aqueceria?). Mas era silêncio de quem peleja na vida e aprendeu com ela, de quem faz uma longa caminhada e permite-se saborear o que encontra pelo caminho. Era daqueles silêncios que falam, bastando silêncio maior para que seja ouvido.
Vi a praça.
É a praça de Mariana.
Mas é a minha praça. E de Josés, Marias e Anas, e dos que vão lá.
E, ainda, é a praça dos que vão a outras paragens, outros lugares que também possuem suas belas praças. Outros lugares de belas praças: Macaé, Centro de Vitória, Araraquara, e lugares bem distantes, até do outro lado do Atlântico.
Mas, uma pequena dose de tristeza – todavia, contraditoriamente, parece uma overdose de tristeza – caiu sobre mim e Carol naquele dia: Amy Winehouse morreu.
Ora, mas eu nem a conhecia.
Porque é a morte de uma jovem de 27 anos. Jovem demais!
Se bem que sempre se é muito jovem para morrer...
Mas a morte dela é uma morte mais triste. Não há nenhuma dose de poesia numa morte como a dela... Se houve alguma dose, foi uma excessiva dose...
Mas a praça ainda estava ali.
E as praças ainda estão lá.
Vamos sair pra ver as praças?
Vê-se muita vida nas praças.
(Praça de Mariana - MG)
Mariana me lembra um pouco a lição que aprendi com Rubem Alves: saborear a caminhada mais que ansiar pela chegada. Rubem Alves sempre estará a me lembrar que a alegria está aqui, no momento, não lá na frente. Por isso - utilizando uma metáfora que escrevi certa vez ao parabenizar uma amiga pelo seu aniversário -, melhor é uma viagem de janela aberta, com o vento no rosto, olhando e saboreando cada pedacinho percorrido.
Porque passei há alguns anos freqüentar um pouco a bela cidade de Ouro Preto, tenho certa dívida com Mariana. Pois, preferindo a chegada, desprezei o caminho. E Mariana esteve sempre no meu caminho; da estrada, via aquela cidadezinha anunciando a chegada de Ouro Preto... Só isso. Se bem que cheguei a ir até um de seus bares, numa fria noite de julho de algum ano, com um bom amigo que fiz em Ouro Preto... Mas, como era noite, vi pouco do que havia lá.
Então...
Um dia, com Carol e seus pais, quase chegando a Ouro Preto, já muito cansados, preferimos entrar em Mariana – ainda de dia!
E eis que Mariana se revelou...
Há muito mais em Mariana do que aquilo que Ouro Preto, sem saber, permite revelar. Sua praça, ah, que bela praça. Por ali, nos arredores, com casarões belos, muito belos, há pontos de encontro muito agradáveis para que se beba um bom chocolate com conhaque (depois de conhecer assim, fiz com cachaça e ficou muito bom). Aliás, lembro que foi com o Tavares e sua esposa Margarete (os amigos que me conduziram pela primeira vez àquela cidade) que provei pela primeira vez o choconhaque. E, mesmo que eu já tenha bebido anteriormente, o local e as companhias tornaram esse momento inigualável...
Ah, Mariana!
Ates de Mariana, passamos por Manhuaçu. Mas, decidido a entrar na cidade e ver meu amigo Gabriel e conhecer sua noiva, vi também que aquela cidade é mais do que a BR revela.
Depois de chegar a Cachoeira do Campo para comprar panela de pedra sabão, ousamos ir além e visitar Amarantina. Elas são distritos de Ouro Preto. Foi uma vendedora de panelas que nos instou a visitar o Museu das Reduções, neste distrito. Quatro irmãos produziram miniaturas (com escala de aproximadamente 1/25) – acho que são 15 – de construções históricas do Brasil... Dentre elas, além de igrejas de Ouro Preto, do Rio de Janeiro (Outeiro da Glória), do Farol da Barra, a Igreja dos Reis Magos, de Nova Almeida – Serra – ES – foi contemplada. E é a construção mais antiga representada – data, a obra, de 1580.
Sei não, talvez haja uma lição nisso tudo, uma lição de relacionamento interpessoal: há mais nas pessoas do que aquilo que a primeira impressão revela. Então, precisamos descobrir os tesouros que as habitam e fogem à primeira impressão...
Lembro do burrinho pedrês, de Guimarães Rosa, de quem jamais se esperaria tamanha valentia.
Voltando pra Vitória, passamos por Ponte Nova, cidade do Feio, um amigo que há muito não vejo, que trabalhou comigo na plataforma de Garoupa, Bacia de Campos. Lá, me emocionei com a beleza da Igreja Matriz de São Sebastião.
(Igreja Matriz de São Sebastião – Ponte Nova - MG)