quarta-feira, 27 de julho de 2011

MISSÃO EM TONS E GOSTOS AMARELOS

                                         Adriano Alves*
Depois de anos voando para os quatro cantos desse país e desse mundão de N. Sr., nesta semana, mais uma vez fui convocado para um vapt-vupt técnico ao nosso cada-dia-mais-querido-Rio-de-Janeiro.
Em tempos de crise no Ministério dos Transportes, talvez influenciado pelas manchetes sobre o DNIT e afins, desta vez, mais por conveniência que necessidade, finalmente ousei dispensar os serviços daqueles antipáticos operadores de raio-x e resolvi encarar a estrada de verdade... E lá estava eu reparando numa telinha, sobre um balcão da rodoviária, a apaixonada Natalie sendo expulsa da cadeia pelo seu amado mau-caráter, Cortez, quando eu subia num amarelão da Itapemirim para reencontrar a igualmente outrora rejeitada “estrada de verdade”, como diria um velho amigo.
E como o amarelão mudou. Comparado àqueles bons tempos de minha infância, quando ia passar férias no interior da Bahia, agora tem água, cafezinho, temperatura ambiente em torno dos 22 graus, uau!, poltronas com considerável inclinação, encosto para esticar as pernas, que combinado com aquela hora perfeita para uma boa relaxada... não me lembro de ter chegado sequer à 2ª. Ponte... apaguei...
Por volta das 2H30 da manhã, ainda sem conseguir avaliar o metro de estrada mais caro do planeta – assim informou o jornal da manhã – acordei em Campos dos Goytacazes, com o barulho da abertura da porta da cabine do motorista e o próprio informando em bom som “15 a 20 minutos para um lanche, pessoal”.
Saltei, zonzo-zonzo, e diligenciei, muito além do que costumo, anotando o número do ônibus na mão... desacostumado, pensei “pra quê?”. Bom, costumava ver minha mãe fazendo isso naqueles tempos... Talvez assim tivesse certeza que havia perdido o ônibus – pra que eu anotei o número daquele ônibus na mão?, pensei... depois de conferir uma super lanchonete, bem organizada, limpa e informatizada – padrão “auto-estrada” – com banheiros tão imundos quanto aqueles que visitamos nas épocas de “amarelinhos-queixos-duros”, retornei após os míseros quinze minutos, aliás, os únicos em que consegui ficar acordado durante todo o percurso até a Cidade Maravilhosa. Excelente pedida o “amarelão”.
Após todos os compromissos de trabalho honrados, ainda não existiu a possibilidade de ir e deixar o Rio sem separar um pouco para namorá-lo, admirando sua beleza, cultura e diversidade. Desta vez, ao invés de partir para mais descobertas nos bairros boêmios do centro-norte-oeste da cidade, também inovei e resolvi curtir a zona sul, sabendo que também não teria errada, claro.
Cinco quilômetros de uma deliciosa corrida no início da noite, da Marina da Glória até Botafogo. Depois, uma comédia no Teatro Leblon. Pela manhã uma caminhada do Posto 08 de Ipanema ao 12 do Leblon. Água de coco. Depois, meio galeto na Av. Visconde de Pirajá. Dois (ou três) douradinhos, claro. Naquela minha tradicional visitinha ao Sebo Al-Farábi, na Rua do Rosário, uma triste notícia. De sebo a café-cult, hoje o Al-Farábi trabalha como restaurante. Oh, tristeza! Lá ainda restam pouquíssimos volumes daquelas pérolas “amareladas” que me acostumei garimpar em cem por cento das minhas visitas ao Rio. Com pesar, questionei ao proprietário – ainda o mesmo –“Putz... e agora? Pra onde eu vou?”, ele sorriu, com certo lisonjeio, e me deu a dica me olhando por cima dos óculos “sabe onde fica ali as Americanas da Uruguaiana?”, assenti “Uhum”, continuou, “fiz bons negócios com os sebos daquela região. Mina de ouro pra quem gosta”.
A caminho da “nova mina”, começou a chover forte... parei e resolvi, então, curtir a chuva com as últimas amarelinhas garimpadas no Al-Farábi e adiei a busca até minha próxima ida ao Rio. Aliás, quanto tempo eu não tomava uma chuva tão gostosa. Será que estou apaixonado? (risos)
Bom, retornei pra casa com o “amarelão” das estradas, claro, e desta vez não querendo mais abandoná-lo quando precisar retornar ao Rio. Curtindo a chuva, e mais ainda o último ouro do árabe do Rosário, encerrei aquela divertida missão com a  dúvida do motorista de táxi que me trouxe até em casa “é aquela ali, Dr?... A amarelinha?”, sorrindo respondi “isso aí, mestre, tão amarela e gostosa quanto aquela nossa famosa caixinha de chocolates”.
* Adriano Alves é engenheiro civil e advogado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente criticando, concordando, discordando e complementando.
Espero, ainda, sua colaboração, enviando textos diversos, segundo os temas de cada área.
Envie seu texto para gilvanvitorino@ig.com.br