O trecho de Evangelho lido nas igrejas católicas
durante as celebrações deste domingo nos apresenta uma cena inusitada: Jesus
apronta um chicote, atravessa o átrio do Templo de Jerusalém como um trator
desgovernado, derruba as mesas dos cambistas e dos comerciantes e expulsa do
templo todos aqueles que fizeram da casa do Senhor um covil de ladrões (Jo
2,13-25).
O recado é claro e de uma atualidade impressionante:
a casa de Deus não é uma feira.
As
igrejas não são um mercado e a fé não pode se tornar um negocio economicamente lucrativo.
Na
relação com Deus não se aplicam as leis do comércio ou a mesquinha lógica da
troca de favores. Deus não se deixa comprar. Suas bênçãos não dependem da
quantidade de dinheiro que lhe ofertamos. Seus benefícios não estão atrelados
às promessas que lhe fazemos. Deus é Graça, é
gratuidade, é suprema generosidade. Deus não se adquire. Seu amor não se
compra. É de todos, sobretudo daqueles que não têm nada para dar em troca. Se
pensarmos de envolver a Deus em operações mercantilistas, deixamos de sermos
discípulos e nos tornamos clientes. As igrejas deixam de serem casas de oração
e de encontro fraterno para virarem centros comerciais. As boas obras deixam de
ser um jeito de vivenciar a fé e se transformam em investimentos na “Bolsa de
Valores Celestes” para garantir um pedaço de Céu. Se as igrejas caírem nessa
tentação vai precisar criar um PROCON RELIGIOSO, um serviço de proteção ao
consumidor de bens espirituais para apresentar reclamações contra Deus e seus ministros
quando não ficarem satisfeitos com os serviços recebidos.
Reduzir
a religião a uma operação comercial é um tiro no pé. Já pensou se Deus entrasse
nessa? Já imaginou se ele começasse a cobrar os royalties do ar que respiramos,
da água que bebemos e da vida que recebemos?
Estaríamos perdidos. Nós somos porque Deus nos chamou à vida. Temos
porque recebemos. Amamos porque Ele nos amou por primeiro. Não dá para comprar aquilo que Deus nos doa de
graça.
Os
ministros de cultos que insistem obsessivamente no dinheiro e o apresentam como
condição para receber a benção tornam-se exploradores, servem-se do nome de
Deus para camuflar outros interesses. O próprio dízimo não pode ser usado como
moeda de troca. É um gesto gratuito de gratidão. Sua finalidade é muito concreta.
Serve às igrejas para desenvolverem sua missão. Deve ser administrado com
responsabilidade e transparência. Inclusive, não pode ser utilizado exclusivamente
para a manutenção das igrejas, para melhorar suas estruturas e para operações
de marketing proselitista, mas também para o exercício da caridade que não é um
optional, mas uma exigência, uma expressão irrenunciável da essência das
igrejas que se dizem cristãs.
Nessa
perspectiva podemos concluir que as chicotadas de Jesus não constituem um ato
de violência, mas um gesto de amor. Ajudam os cristãos a abrirem os olhos e a
não se deixarem enganar.
Mas
o zelo de Jesus pela casa de Deus não se refere somente aos templos. Diz
respeito, sobretudo à igreja viva que somos nós. O ser humano é a casa de Deus,
é o templo do Espírito Santo. Portanto deve ser tratado com cuidado e respeito.
Ao pegar o chicote e ao expulsar os vendilhões do templo Jesus quis chamar
também a atenção sobre a dignidade humana. Quis dizer com toda a força que
precisa ter respeito pelo ser humano. Não dá para comercializar a vida. Esta
não pode ser submetida às leis da economia e às exigências do dinheiro. Não dá
para vender ou comprar a dignidade e a liberdade em troca de bens materiais e
de prazeres volúveis. A existência humana não pode ser reduzida a uma questão
de negócio. Não dá para subjugar o coração às leis e aos interesses do mais
rico, do mais poderoso, do mais experto e do mais violento. Há leis e escolhas que
sujam o coração humano da mesma forma como os bois e as ovelhas emporcalhavam o
átrio do templo.
Bem
vindo o chicote de Jesus para expulsar do ser humano tudo aquilo que profana
sua dignidade. Profanar a dignidade do
ser humano, sobretudo dos pequenos, dos pobres e das crianças é o pior
sacrilégio. Nada vale mais do que a vida. Ela é sagrada. Infelizmente o
dinheiro tornou-se uma divindade. O culto a ele virou uma idolatria. Os centros
comerciais e as agências bancárias tornaram-se centros de culto. Os meios de
comunicação transformaram-se em púlpitos eletrônicos. O mercado impôs sua
lógica. Sobre o altar do lucro sacrifica-se o ser humano e pisoteia-se sua
dignidade. O consumismo impõe padrões de vida que poluem a essência do ser
humano. Está na hora de fazer limpeza e resgatar a verdadeira essência da vida
para o ser humano se tornar a morada de Deus e uma ponte de fraternidade. A
casa de Deus precisa de uma boa faxina.
Pe. Saverio Paolillo
(Pe. Xavier)
Missionário
Comboniano
Pastoral do Menor e
Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Vitória do E.S.
REDE AICA –
Atendimento Integrado à Criança e ao Adolescente
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente criticando, concordando, discordando e complementando.
Espero, ainda, sua colaboração, enviando textos diversos, segundo os temas de cada área.
Envie seu texto para gilvanvitorino@ig.com.br