Isabel Silva, defensora de Direitos
Humanos, defensora da vida, um exemplo a ser seguido. Isabel foi durante muitos
anos coordenadora da Pastoral Carcerária no Espírito Santo.
Tentaram criminalizá-la...
Deixemos que Isabel fale:
Após
seis anos de longa espera, me vejo livre de todas as acusações de uma
infinidade de crimes hediondos, assassinatos, tráfico de drogas, queima de
ônibus, facilitação de fugas, formação de quadrilha e outros.
Foi
um período de muita dor, muito sofrimento, muita desilusão, muita raiva, a
princípio, mas Deus foi arrancando de mim esses sentimentos destrutivos e me
abastecendo com força e coragem, para não ser destruída, e fui me erguendo e
continuei de pé. Não conseguiram me destruir.
Hoje
arquivam todas as acusações que me imputaram. Se perguntarem se estou feliz,
não sei, aliviada, talvez, pois ninguém vai apagar, ninguém vai me devolver os
dias de angústia, as noites sem dormir, as pressões, as lágrimas de minha
família, as minhas lágrimas, a minha vida exposta como criminosa, bandida
perigosa. E pergunto: o que fiz?
Hoje
o promotor de Vila Velha, ao arquivar o procedimento, pois nem indiciada fui,
me livra das acusações, mas faz críticas, apontamentos severos e cruéis ao
trabalho da Pastoral Carcerária, afirmando que a Pastoral foi um flagelo, uma
página negra no sistema penitenciário, que deturpamos o verdadeiro sentido da
Pastoral com a conivência e submissão do sistema penitenciário. O promotor tem
todo o direito de não simpatizar com o trabalho da Pastoral Carcerária e dos
Direitos Humanos, só penso que o arquivamento de tal processo tinha de ser
técnico, não pessoal. Assim como o promotor de Viana, deveria ter analisado
cada acusação e desse um parecer justo e coerente, descartando cada apontamento
com profissionalismo, inclusive citando o nome da acusada. Infelizmente
isso não aconteceu com a ação de Vila
Velha, quando fui acusada.
Ele
cita a Pastoral Carcerária, mas foi meu nome que foi apontando na mídia. Claro
que a Pastoral foi atingida sem dó e, consequentemente, a Igreja Católica, mas,
no fundo, penso que fui usada para isso: denegrir a imagem dessa instituição.
Foram
25 anos da minha vida dedicada à Pastoral Carcerária e aos Direitos Humanos e
se uma única mulher foi atingida por tantas acusações, esta mulher quer dizer a
todos que não se arrepende de nada. Talvez meu pecado foi ter paixão demais e
levar o evangelho ao pé da letra e, hoje, quando me lembro das misérias, das
barbáries, das corrupções, dos presos morrendo com todo tipo de doenças pelos
corredores fétidos daqueles lugares; quando me lembro dos presos sendo
torturados e mortos pelos agentes do governo e até pelos próprios presos;
quando lembro da quantidade de presos amontoados como bichos, presos com penas
vencidas, em lugares inadequados e pedindo justiça, esta mulher se sente
vitoriosa, pois mesmo que o prêmio tenha sido a cruz, joguei para fora daquelas
ma smorras todos esses horrores que ficavam escondidos e encobertos atrás dos
muros. Pude levar a eles a confiança e dar a eles coragem de denunciar o
inferno que ali viviam.
Expus
minha figura, não sei como não morri, me expus ao contágio das doenças, como me
expus à fúria daqueles a quem desagradei e, para dar um basta, usaram armas
mortais: a calúnia e a covardia. Mas não conseguiram, pois tenho certeza que a
minha Igreja e os movimentos dos Direitos Humanos não se curvarão diante dos
algozes que muitas vezes se escondem como parceiros e agentes do bem. Não nos
enganarão, nosso Deus não compactua com o mal e com a injustiça.
Entretanto,
não posso terminar com a pergunta que não quer calar: levaram 25 anos para
dizer que uma única mulher conseguiu fazer um estrago tão grande no sistema
penitenciário?
Hoje
tenho orgulho de dizer a todos que, se muitas situações mudaram, se muitas
situações foram denunciadas, levadas para fora do país, mostrando a crueldade e
a barbárie que vivia esse sistema, eu estava ali e faço parte dessa história.
VIVA
A LIBERDADE!
E digo eu: viva a liberdade –
por um mundo sem prisões.
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